Elogio fúnebre ao Sr Alberto Vidal, escrito e lido em nome da ASE por Marisa Macedo, no seu funeral, com a anuência da família

Perante a morte somos impelidos a pensar o que é ter sucesso na vida.

O que será, afinal, vencer na vida, esse conceito tão valorizado no mundo atual.

No nosso derradeiro momento terreno, tenderemos a questionar se fomos bem-sucedidos. Se a nossa vida valeu a pena. Se valeu, pelo menos, alguma coisa.

O sucesso na vida é um conceito multifacetado, cuja definição depende do que cada um pensa sobre o assunto. Para uns será ter muito dinheiro, para outros será ter construído uma obra significativa e, nestes novos tempos dominados pelas redes sociais, o sucesso parece ser a imagem bonita que cada um exibe, as viagens por lugares idílicos, a frequência de restaurantes, os bens materiais que se ostentam.

O sucesso parece ser a aparência de uma vida desafogada.

Será isso o sucesso?

O Sr Alberto Vidal não tinha redes sociais, mas conseguiu chegar ao coração de muita gente.

Há pessoas que, quando sabemos da sua morte, preferimos ficar calados, até para não sermos inconvenientes. Outras a quem dirigimos palavras de circunstância. E outras – as que para nós são especiais – que nos causam profundo abalo e tristeza.

O Sr Vidal é uma dessas pessoas especiais.

Aos 17 anos, ficou à frente dos destinos da “Alberto Augusto de Figueiredo Vidal e Filhos, Lda”, armazém de distribuição a retalhistas, com sede na Rua Dr. Souto Alves, que operava desde Estarreja até ao limite de Viseu e Vila Nova de Gaia, numa altura em que, devido ao regime de ditadura em que Portugal vivia, os alimentos eram distribuídos por senhas à população.

O Sr Vidal foi jogador no CDE – Clube Desportivo de Estarreja desde os 15 anos. Andou sempre envolvido nas obras de melhoramento do clube. Foi diretor de várias comissões administrativas do CDE e, para pagar as contas, organizou várias iniciativas de angariação de fundos a favor do clube por quem sempre nutriu uma verdadeira paixão.

O Sr Vidal tinha admiração pelos Bombeiros, tendo feito parte do corpo ativo, sempre como motorista. Antes mesmo de tirar a carta de condução, como morava em frente à sede e a mãe tinha a chave para abri-la, conduziu ele próprio os veículos ligeiros e pesados da corporação quando era necessário ir socorrer alguém e o quarteleiro demorava.

Foi diretor dos Bombeiros em vários mandatos, entre eles o que abrangeu a construção do antigo quartel, na altura em que o Comandante era Armando Couto.

Para arranjar dinheiro para a sua construção, pediu ao falecido Cônsul de Portugal em Sevilha, Ernesto Marques de Oliveira e Silva, que redigisse uma carta para enviar ao Papa Paulo VI. E o Santo Padre respondeu, enviando uma “Benção Papal”, que foi reproduzida e vendida por cerca de 100 escudos aos peregrinos que vinham de Fátima.

A venda da “Benção Papal” e os “auto-stops” foram a fonte de receita que permitiu pagar grande parte do primeiro quartel dos B.V. de Estarreja.

Alberto Vidal foi fundador e tesoureiro da “Casa dos Pobres”, que nasceu na sequência da 2ª Guerra Mundial.

O armazém gerido por Alberto Vidal fornecia a cantina onde eram servidas, diariamente, cerca de 250 sopas ao almoço e outras tantas ao jantar. A “Casa dos Pobres” levava alimentos a casa dos idosos e pessoas sem possibilidades de se deslocarem.

Alberto Vidal também se envolveu no Centro Recreativo de Estarreja, que funcionava no edifício que hoje é a “Casa da Cultura”, que estava para ser demolida, por se apresentar em ruínas. O Centro Recreativo tinha uma intensa atividade cultural e social.

Foi o Centro Recreativo e o CDE que organizaram e levaram a palco a revista “Nada de Confusões”, representada no Cine Teatro de Estarreja e no Cine Teatro de Aveiro, na qual surgiu o atual hino do CDE.

A par das suas atividades profissionais e sociais, Alberto Vidal foi um resistente contra a ditadura, tendo participado em reuniões clandestinas que se realizavam no concelho, bem como no Congresso da Oposição Democrática em Aveiro.

Foi fundador do MDP-CDE (Movimento Democrático Português-Comissão Democrática Eleitoral) e, enquanto membro desse então movimento, andou, de porta em porta a recensear pessoas para votar nas primeiras eleições livres, as de1975.

Fez parte da Comissão Administrativa que geriu a Câmara Municipal de Estarreja, no período 1974-1975.

A partir daí, nunca mais se envolveu na política partidária.

Um dia, foi visitar um amigo ao hospital e levar-lhe um peixe de bacalhau a casa, quando se deparou com as condições miseráveis em que vivia. Foi nesse momento que se consolidou a ideia de fundar a ASE – Associação de Solidariedade Estarrejense, que nasceu em 1979.

A ASE nasceu para dar condições de habitação digna às famílias carenciadas, substituindo chão de terra batida, colocando janelas em vez de plásticos, construindo casas de banho, instalando canalização de água ou levando eletricidade à casa dos mais pobres.

Entre 1995 e 2001, chefiou o projeto “INOVAR ESTARREJA”, lançado pela Câmara Municipal de Estarreja, na altura liderada por Vladimiro Silva, ao abrigo do qual foi possível recuperar 136 casas degradadas e dar condições mínimas de habitação a famílias carenciadas, com recurso a mão-de-obra fornecida pelas famílias beneficiadas.

Por sua iniciativa, em 2005, o Bairro Social da Teixugueira ficou a pertencer à ASE e continua a garantir habitação social.

Pela sua ação, diária e sistemática, ao longo de quase quatro décadas, a ASE tornou-se responsável por cerca de 70% da habitação social do concelho.

Em 2004, a Câmara Municipal de Estarreja atribuiu-lhe a Medalha de Ouro do concelho, distinção que é conferida a personalidades que se tenham distinguido por excecionais qualidades de inteligência, ação e benemerência ou por importantes serviços prestados ao Município.

O Sr Vidal colaborou sempre com as mais diversas instituições do concelho, ajudando sempre que pode e como conseguiu. Por isso, tem hoje, aqui, o reconhecimento e a presença de tantas.

A ASE é, talvez, o seu maior legado e serve hoje de apoio a muitas dezenas de famílias.

Para além da sua obra social, o Sr Vidal deixou uma família que soube construir e manter, num casamento que durou toda a vida e rodeado dos filhos, que tanto amava e por quem os seus olhos brilhavam. Faleceu em paz, na sua companhia, como era seu desejo.

O Sr Alberto Vidal era um homem entusiasmado e alegre.

Corajoso, lutador, inquieto.

Profundamente justo.

Inquietou-se com o mundo e foi, ao longo da sua vida, transformando a vida concreta de muitos que precisavam de ajuda.

Foi certamente a pensar em homens como o Sr Alberto Vidal, que Bertolt Brecht escreveu o seguinte: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e, estes, são imprescindíveis.”

Às vezes, nas muitas conversas que com ele tinha, falávamos de Deus. Era um diálogo entre uma crente e uma pessoa que Deus pôs à prova, quando lhe levou o pai aos 17 anos, transformando toda a sua perspetiva de vida.

Desde aí, o Sr Vidal nunca se sentava na igreja. O que também não deixa de ser um sinal das suas inquietações humanas.

Do que não resta qualquer dúvida é que a vida do Sr Alberto Vidal foi um exemplo do que é ser uma pessoa de exceção: com princípios, com valores, com dedicação, com solidariedade, com empatia. Mesmo sem, talvez, acreditar no conceito, ele foi o que deve ser um bom cristão. Uma boa pessoa.

Os caminhos de Deus são insondáveis, mas para uma católica como eu e como disse o Papa Francisco, o Sr Vidal, pelas escolhas que fez ao longo da vida, só poderá estar, agora, junto de Deus.

Chegados aqui, o que será uma vida de sucesso?

Talvez o sucesso se meça pelo impacto que a nossa vida tem na vida dos outros.

Talvez seja os outros reconhecerem, de forma sincera e sentida, que fizemos alguma coisa de jeito.

O sucesso, talvez seja, em última análise, deixarmos saudades nos outros. Fazermos falta.

Se há pessoa de quem vamos ter saudades e que faz falta, essa pessoa é o Sr Alberto Vidal.

Vamos sentir falta de si e da sua forma de mudar o mundo: digno, corajoso, lutador e empático.

Descanse em paz Sr Vidal.

A sua vida foi um tremendo sucesso.

Falecimento do Sr. Alberto Vidal

Informamos que o funeral do nosso fundador, Alberto Vidal, está marcado para hoje, terça feira, dia 22 de Abril, às 17 horas.

O corpo estará em câmara ardente a partir das 11.30 horas na Casa Mortuária de Beduído, indo a inumar no Jazigo da família, no cemitério de Beduído, após eucaristia na Igreja Paroquial de S. Tiago de Beduído.

Todas as associações ou instituições que se queiram associar às exéquias podem fazê-lo com as suas bandeiras/insígnias.

Como consignar o seu IRS em 2025 à ASE?

A entrega do IRS referente aos rendimentos de 2024 decorre de 1 de abril a 30 de junho de 2025, para todos os contribuintes, independentemente da categoria de rendimentos. Siga as instruções abaixo e saiba como fazer a sua consignação de IRS à ASE quando submeter a sua declaração. É muito simples e não tem qualquer custo para si:

Passo a passo para consignar – de 1 de abril a 30 de junho

Declarações automáticas

Aceda à Pré-Liquidação do seu IRS e assinale a opção “Consignar 1% do IRS”.

• Escolha a 2ª opção: “Instituições particulares de solidariedade social ou pessoas coletivas de utilidade pública”.
• Insira o NIF da ASE: 500 858250.

Declarações não automáticas

Assinale também o campo IVA se optar por consignar também o valor da sua dedução de IVA.

• Na Folha de Rosto, localize o Quadro 11.
• Selecione o campo 1101: “Instituições particulares de solidariedade social ou pessoas coletivas de utilidade pública (art. 32.º, n.º6, da Lei n.º 16/2001, de 22 de junho).”
• Insira o NIF da ASE: 500 858 250.
  
  Assinale o campo IRS para consignar o seu IRS.